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trata-se de um percurso de busca, numa procura constante de encontrar respostas,
de me surpreender pela beleza do viver e do sentir, resultante da vulnerabilidade ao espanto, num mergulho profundo, de retorno ao início, ao lugar da travessia, ao acto de nascer.





Cuidar, só depois agir



 
 








Mergulhar, uma Pausa no Mundo


Todas as artes têm um primeiro movimento,
que é justamente, a imersão!

Eduardo Chillida


                 






O uso dos tecidos evoca os drapeados e o fascínio pelas obras renascentistas e barrocas, onde os tecidos das vestes sempre puras tomam um lugar central na pintura e na escultura. As pregas, o claro e o escuro, o movimento orgânico e quase táctil transmitido pelos detalhes dados aos tecidos. Neste sentido, os tecidos e as imagens que apresento destes tecidos, ou deste tecido-corpo mergulhado, falam também de pintura daquilo que mais ficou marcado na minha memória quando, ainda pequena, contemplava pela primeira vez as vestes com transparências e movimentos levíssimos na pintura de Botticelli, o claro e escuro na profundidade da pintura esmagadora de Caravaggio, o véu suave e delicado do corpo da bela Santa Cecília, esculpida por Stefano Maderno ou o movimento das vestes carregadas de uma assombrosa energia que podemos contemplar nas escultura de Lorenzo Bernini. “Trata-se do prodígio de transformar a pedra, a matéria, em emoção, em energia, em leveza que contraria o peso, em vento“, Rui Chafes, 2012, Entre o céu e a terra.



Pertencer à paisagem.


Agora ele está pensando,
no silêncio líquido com que as águas escurecem as pedras.

Manoel de Barros





  






Portais para outro mundo




Portais para Outro Mundo, é uma série, onde se conjugam a fotografia e a pintura.
O contacto com a natureza e a sua observação com um olhar mais poético e mais profundo, proporcionou mergulhos em espaços repletos de possibilidades que estão por vir. 
É através da fotografia, que capta esse espaço entre, que se elevam as potencialidades ali contidas. Esse espaço, que passava despercebido ao olhar comum, passa a ser apresentado como espaço de potência criadora. Há um reconhecimento e identificação. Aquele espaço captado pela fotografia, adquire vida própria, uma fantasia projectada na imagem, revelando sinais invisíveis, que não se manifestam exteriormente.  Cada pintura está intimamente ligada a um momento e a um local específico. São pinturas realizadas durante os meses de confinamento com o meu filho, e era ele quem descobria e assinalava, durante os passeios pelo jardim e pelo campo, os locais que considerava serem possíveis passagens para outros mundos.







  

texturas






Colheitas no Tempo, a Beleza que Permanece. 



Processos de Fossilização

observar/ absorver/ reconhecer/ escolher/ recolher/ estudar/ arquivar/ organizar/ planear/  dispor/ sentir/ iniciar/ testar/ realizar/ libertar/ entregar/ cuidar



Colheitas no Tempo, a Beleza que permanece, 2022, é uma intervenção no espaço público da Vila de Ponte da Barca, na região do Alto Minho, que resultou numa instalação permanente de mais de 40 peças, em betão armado e pigmentado, que fazem agora parte daquele lugar, daquele espaço.



Todas as colheitas que fiz das espécies endógenas da região, foram arquivadas em atelier e com elas trabalhei num processo que chamei de processos de fossilização - o processo de imprimir, e de congelar - o “le printemps”. Printemps, em francês, vem da palavra le print que quer dizer Impressão e “le print temps” significa, precisamente, tempos de impressão.  Era o começo da primavera, quando dei início à minha pesquisa, tendo mergulhado num processo de imprimir a primavera, que tinha acabado de chegar à Serra e às suas espécies, cobrindo-se de giestas em flor, muito típicas e de grande beleza. A própria primavera é também a primeira impressão da vida que está a germinar, a gerar, a chegar, que se vai transformar e percorrer o seu ciclo: viver, morrer, decompor-se para novamente renascer.









Índigo





Fiz várias experiências de extracção deste pigmento a partir de plantas que me foram enviadas de vários locais[1] e de onde é possível extraí-lo. No entanto, a variedade mais especial de todas é a Isactis Tintoris - Pastel-dos-tintureiros, uma variedade rara, cultivada nos Açores, na Ilha do Faial, e que deixamos praticamente de produzir, apesar de ter sido exactamente nos Açores que a conheci e que a pude experienciar, extraindo o índigo deste Pastel que tanta história contém, pois pertence à nossa terra, à história das ilhas, à história dos nossos conhecimentos. A cor índigo daqui extraída, é a mais bela e a mais pura, além de que a sinto como sendo nossa, como sendo minha.



[1] Há que notar que não tenho qualquer especialidade em espécies de plantas, nem sou dotada de um conhecimento profundo sobre estas espécies, por isso procurei sempre os especialistas, amadores ou profissionais, que muito mais percebem do assunto. Eu como aprendiz segui conselhos e receitas, mas a intuição da criação foi sempre o que me levou a experimentar e a criar as minhas próprias receitas em busca do que procurava.


Ciclo Imerso, Espelho do Céu

Selecção



Nada é mais acessível ao espírito do que aquilo que é infinito
                                                                                             Novalis











Ciclo Imerso, Vestígios do Tempo


O céu
é meu
a terra
é minha
como sou rico!

Abbas Kiarostami















Pertencer, Mergulhar. 


marcados pelo tempo e pelo uso, e tingidos pelo mergulho no drama da existência - ficam impressos indícios do invisível no visível, marcas de gestos, acontecimentos e situações, vestígios que nos fazem refletir naquilo que nós próprios deixamos para trás, e apenas possíveis pela presença do homem no mundo, capaz de romper a indiferença do fluxo temporal, e onde o tempo presente fica marcado pelo futuro do passado.

Documentação do acto performativo no processo do trabalho







Pertencer e Habitar a matéria em busca de
ser-com-o-mundo

Projeção de vídeo, Aço, tecido 100% algodão com 20 metros tingido em lagar de vinho






Mergulhar nas Profundezas do Sujeito



O tecido do meu corpo é o mesmo que o tecido do mundo.                                                   José GIL
Renascer

Esta instalação utiliza o recurso ao corpo próprio como veículo de expressão artística pela incorporação de gestos e de rituais que, sendo familiares e quotidianos, não deixam de estar impregnados de simbolismos que podem despertar memórias e suscitar associações, tanto pessoais como culturais ou ancestrais, tanto conscientes como inconscientes, afectando o observador.




Aço, impressões a jato de tinta s/papel IlfordGallery 310g e uma peça de 20 metros de pano cru 100% algodão, tingido em lagar de vinho. Dimensões variadas.






MERGULHO EM TI,


Expo e prova publica. FBAUP 2023. 
 
“Continua e Descontinua Metamorfose”

 Estufas do Jardim Botanico do Porto.
Glaria de Biodiversidade  











a fragilidade




Fragmentos em Vida.


A fragilidade destas peças e o jogo de todo o processo da sua criação fascina-me. Apaixonei-me por este material orgânico, feminino, revelador e frágil, tão frágil que várias são as vezes em que a peça se desfaz ou se modifica com o tempo. São peças com vida própria, misteriosas e sensíveis ao toque humano.
Em cada peça nova o trabalho revela-se experimental, plástico e escultural. Cada peça é única e viva



Souls



Instalação de mais de 200 peças pousadas no chão | Pigmento e folha de ouro s/ casca de árvore e Lezes Led
Fundação Casa-Museu Medeiros e Almeida, Lisboa Portugal 



Souls,representa tudo aquilo que é retirado do seu local nativo ou abusado na sua fragilidade. Procuro criar um ambiente “solene” e de homenagem, onde cada peça é de certa forma transferida num acto de apropriação.

Deslocando-a do seu local nativo, quero de certa forma dar-lhe uma nova dignidade e vida, mas alertando para todas as barbaridade contra a natureza e contra a humanidade. As pequenas luzes led têm um certo tempo de vida e a sua intensidade vai-se perdendo ao longo dos dias da exposição. Assim, da mesma forma, qualquer pessoa deslocada das suas “raízes” deixa de brilhar e sua identidade desvanece-se.




Fragmentos em Vida II
Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Lisbon, Portugal.

Cada casca usada para compor a peça apresentada era detalhadamente descrita com informações de arquivo:
- Árvore a que pertenciam (nome científico)
- Onde tinham sido recolhidas (local)
- Quando e em que momento da minha vida (memória)





Fragmentos em Vida









Em ti, encontro

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As acções levadas a cabo nesta residência artística, deram início a uma posterior reflexão sobre a importância do gesto e do tempo, do esculpir e do cuidar, bem como dos vestígios que ficam dos nossos gestosColheitas no Tempo, a Beleza que Permanece