Ribirth

Proposta desenvolvida em plena pandemia - Covid 19 - quarentena 2020.


Imagens captadas durante a relização deste mergulho em vinho, no espaço intimo de casa.
Este ensaio originou uma instalçao de várias peças e que foi apresentada na Zet Gallery em 2021



(Seleção de imagens da narrativa)

Este Ensaio, que tem por título – Rebirth  –
remete para o ciclo da vida - eterno retorno que decorre entre nascimento e morte – mas no qual os gestos, os actos e as intenções humanas deixam marcas profundas, por vezes muito dolorosas.

Rebirth ou “O Futuro do Passado” utiliza o recurso ao corpo próprio como veículo de expressão artística pela incorporação de gestos e de rituais que, sendo familiares e quotidianos, reflectem, por um lado, o contexto contemporâneo que vivemos marcado por uma pandemia (Covid19) que se vive e que se sofre de modo inédito, tanto à escala global como ao nível individual, e, por outro lado, que aludem ao momento específico da Páscoa. Ambos os contextos coincidem temporalmente (a Pandemia e a Páscoa) e em ambos coexistem, a paixão e a morte, a injustiça e a perplexidade, o perdão e a promessa, a esperança e a vida.






É como um refúgio no não-espaço-tempo pela submersão na água, a qual, vermelha porque tingida de vinho, invoca os banhos em vinho para purificar o corpo (ritual utilizado em tantas culturas),  mas também; tanto a ferida aberta pela inserção e acção do ser humano no mundo como a possibilidade da sua purificação na Pia Baptismal; tanto a água transformada em vinho e o vinho transformado em sangue como o sangue derramado; tanto a vida intra-uterina pronta a nascer como o corpo em formol a aguardar autópsia; tanto confinamento e limitação física no exíguo espaço de uma banheira como possibilidade de libertação espiritual.

O mergulho, numa alusão ao célebre “Mergulhador” (a passagem) de Paestum  (480-470 AC), às performances de Mónica Weiss, nomeadamente Elytron: Spirit and body are only two wings, 2003, ou de Bill Viola,  em The Passing, 1991, ou em The Nantes Tryptic, 1992, constitui uma metáfora da existência humana enquanto estado suspenso entre a vida e a morte, ou entre o passado e o futuro, da continuidade entre os diferentes estados da existência, bem como dos momentos que a delimitam.

Este vulto feminino assim envolto, alude às Três Parcas, divindades greco-romanas envoltas em panos pretos, que controlavam a existência humana, podendo, no entanto, este vulto feminino representar qualquer uma delas, seja a que tece o fio da vida (no útero materno); seja a  que corta o cordão umbilical dando início à vida terrena; ou a que corta o fio da vida, pondo-lhe fim a qualquer momento.

Por fim, a saída do banho desta figura, agora envolta num pano branco e o retorno da água da banheira à sua transparência habitual, remetem tanto para a acção banal e quotidiana do banho, mas cuja repetição rotineira alude ao eterno retorno do ciclo vital.