A estadia no campo, onde estive durante três meses, foi extraordinariamente reveladora duma capacidade de fuga para outros mundos, principalmente ao ver o contacto do meu filho com a natureza.
Em qualquer espaço do jardim ou da casa, ele observava as fendas dos velhos muros de pedra, o tanque, os troncos das árvores corroídos pelo tempo, as janelas da estufa e a sua humidade..Ali imaginava imediatamente possíveis itinerários de fantasia, infindáveis recursos de acesso ao impossível e ao absurdo. Reconheço, eu própria, esses mesmos paraísos que o meu filho agora descobre e de que se apropria, como eu o fiz na minha infância.

Neste porjecto quis captar uma acção que vi acontecer, como acção desviante. Foi realizada por ele e registada em desenhos por mim - pela transferência da matéria presente através da pintura. O meu filho levou-a a cabo pela sua fantasia e imaginação, utilizando estratégias de simulação, em si mesmas já uma encenação do que vai acontecer, muito intuitiva nas crianças. Cada local registado em pintura pos mim, foi, no entanto, utilizado pelo meu filho como portal de passagem, de fuga, de refúgio, tal como em Alice no País das Maravilhas.

Como decorreu esta interacção da crianças com cada local, permanece o mistério insondável da fantasia e do sonho, mas, seguramente, possibilitadores da construção de mundos de recordações que se constituem como reservas inesgotáveis de felicidade que irão nutrindo, sustentando e tornando toleráveis as inevitáveis agruras que irão encontrar na sua vida adulta. A performance, que cada ponto de fuga poderá ter suscitado nas crianças, fica em suspenso, pois para o espectador que era eu, ela é invisível.

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